sábado, 6 de agosto de 2011

Máscarações


          A prática é antiga e advém, inicialmente, de uma criação fantástica e religiosa. As máscaras foram criadas e associadas ao misticismo. Por meio dela, o sagrado adentrou no imaginário humano, que se revestia de força e poder espiritual cada vez que um homem fosse mascarado. Como em uma transfusão, as divindades atribuíam todo o seu poder aos mascarados, em algumas civilizações.

Aos poucos, o teatro grego e romano estabeleceu uma função figurativa para as máscaras, que passaram a limitar a linha entre ator e personagem. Chamada em latim de personna, elas transgrediram os palcos e invadiram a estética decorativa. Assumiram muitos outros papéis e, antes de tudo, transcenderam o homem. De tempos remotos são utilizadas instintivamente pelos animais para se camuflarem dos perigos mundanos. Mascarar-se é uma ação tão elementar que a própria natureza incorporou a função de disfarce nos troncos, folhas e pedras.
Do sagrado ao profano, do misticismo à estética, da comédia à tragédia, do real ao lúdico e do instintivo ao racional, as máscaras caminharam para modernidade com os pés da tecnologia e com finalidades múltiplas. Máscaras de oxigênio, máscaras cirúrgicas, estéticas e protetoras. Entretanto, sem abandonar os resquícios da cultura greco-romana, são as personnas  que prevalecem e personificam diversos e distintos disfarces sociais.
Seria confusa e irrisória a vida sem máscaras. Usadas como heterônimos, elas ocultam a essência de quem as usa, misturam o bem e o mal. O seu poder de iludir tornam-nas democráticas. Super-heróis, bandidos e terroristas, todos as usam em prol de um ideal. Fantasiar-se emancipa-nos e torna a nossa realidade inatingível e invisível.
Em ações cotidianas, usar máscaras evita passar pelo constrangimento de estereótipos e contrapõe a realidade simples e absurda. As crianças choram por nítidos desejos, as fotografias carregam sorrisos forçados, escondemos as tristezas e as lágrimas, embelezamo-nos com a didática da vida profissional, vestimos a máscara da democracia e da lucidez e aparentamos ser fortes.
Em sociedade, passamo-nos por cidadãos morais de bons costumes e fingimos ser educados, dotados somente de boas qualidades. Na política, vestimos o terno da burocracia para ganhar tempo, fingimos as boas relações internacionais e a preocupação com a sociedade, mascaramos o desejo de conquista e poder com as guerras contra o tráfico e o terrorismo.
Necessárias, as máscaras desmascaram as nossas fraquezas, impotências e inquietações. Quando caem, tomba-nos em queda mútua. Prepotentemente, fazem-nos reféns do instinto, da racionalidade e, sobretudo, da emotividade. Sem elas, não passamos de reles alvos susceptíveis a ataques e desprovidos de defesa.